quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

MEMÓRIAS DE ESPHERAS IV: HÁ UMA SEMANA ME SINTO ASSIM (UM CONTO CURTO DE BELLOTO)

Encontrei este depoimento numa fita Basf LM chrome plus II 60", que Belloto deixou comigo junta com outras mais. Foi gravada em 2002, conforme indica a data abaixo do conto. Não sei quem é a garota que Belloto se refere. Ele não cita seu nome em momento algum, e a pouca indicação histórica sobre fato diz respeito ao programa de Marcelo Tas na Brasil 2000 FM (quem quiser se informar sobre o programa: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult514u95.shtml). Eu bem poderia fazer um levantamento histórico da vida deste homem, mas não o farei por dois motivos: 1) o desejo de manter anônimo o nome deste grande amor de 2002, quem eu até desconfio quem seja; 2) uma preguiça imensurável de vasculhar os arquivos pessoais de Neyson Belloto e revelar o nome em questão. Assim sendo, fiquemos com o conto, no momento. Boa leitura a todos.


 
Há uma semana me sinto assim, meio adoentado. É estranho, é uma fase de transição, a vida querendo dizer algo para mim. Eu tenho uma namorada. Ela não sabe, mas comparado aos  meus outros relacionamentos, acho que essa  é a primeira vez que eu posso dizer que namoro realmente. Ela me faz bem quase sempre, só que às vezes eu sinto uma certa dor. Não que ela me cause esta dor; esta dor é por minha culpa. É que ela me ama tanto, tanto, que às vezes eu tenho a impressão que ela me ama mais do que eu a ela. Em vinte minutos, ela estará sendo examinada por um ginecologista. Sua menstruação não vem há uma semana. Gravidez? Bom, será que um esperma meu seria inteligente o suficiente para enganar uma camisinha anatômica com espermicida? M. está casado há quase dois anos, usando camisinha e tabelinha, e nada... Bom, na família dela há dois casos de cisto ou algo parecido. Este é o medo dela. Os sinais da vida me dizem que não é gravidez, e o mundo gira, causando um suspense enorme em meu coração. Isto significa que é hora de ocupar minha mente com alguma coisa. Aliás, é o que estou fazendo desde manhã. Terapia ocupacional? Não; uma simples crença adotado de um ditado chinês – ou coisa parecida – que diz que antes de tomar uma decisão, devemos dar três voltas dentro de nosso lar. Eu, quando  perto de alguma mudança, arrumo meu quarto e troco algumas coisas de lugar. Mudanças. Esta madrugada sonhei que invadia a casa de um homem morto e vestia seu sapato. Sapato de morto?!  Ela ligou-me dizendo que ia passar no ginecologista. Deus!  Mas, eu estou para o que der e vier. Ela sabe disso.  Para esfriar a mente, eu começo a arrumar o quarto ouvindo Marcelo Tas na Brasil 2000 FM. Pego os discos amontoados e coloco-os em um lugar mais organizado. Imagens, recortes de revistas que ela me trouxe – além de coisas óbvias como discos, filmes, livros e cds, eu coleciono imagens. Começo a guardar estas imagens na minha caixa de imagens e eis que uma mais pesada cai do meio das outras. É ela. Uma foto dela, daquelas produzidas por pais orgulhosos da beleza dos filhos. O fundo é lilás, espiritualidade, assim como os brincos e as violetas –três- em um colar dourado e o batom. O vestido – A foto termina no busto – é vermelho, de um pano muito fino. Sua cabeça está inclinada levemente para a direita e ela olha-me – digo, olha para a frente -  esboça um sorriso e possui no olhar uma alegria tão grande de me ver, de me conhecer, de ter me ao seu lado como amigo, irmão, amante,...As pernas tremem, eu sento no chão e as lágrimas descem. Eu não as evito, estimulo-as, relembrando os momentos mais caros e raros  que passamos juntos.  Marcelo Tas fala coisas alegres e eu choro. Sinto a necessidade de amá-la cada vez mais e mais, de formas possíveis e impossíveis. Ela completou meu mundo e deu sentido a minha vida. Que Deus nos abençoe e cuide de nós, nos  ilumine  para mantermos sempre a lucidez e a  beleza do nosso romance. Nós acreditamos no Amor, e isto já é tão raro nos dias de hoje! Deus, eu sei que a amo bastante, mas eu quero amá-la cada vez mais e mais e mais e...

 
18/11/2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário