Um conto sobre prazer, realizações e fidelidade. Do trabalho TEORIA DA FIDELIDADE.
A
VIAGEM DE MÁRCIA
Deixar o marido com as duas pequenas
filhas foi algo que doeu muito em
Márcia. Mas ela é uma mulher moderna e independente, e foi por isto que o marido se apaixonou por ela. A personalidade
forte, bem torneada e sem medo de desafiar o mundo. Márcia é uma mulher e
tanto! Em seu carro do ano passado, ela cruza rodovias e rodovias, até chegar
ao um hotel no interior do outro Estado ao lado de São Paulo para um
conferência nacional de sua empresa. Após
estacionar o carro e mostrar suas credenciais, foi conduzida por um
jovem até seus aposentos. Uma pequena suíte com tv, som, telefone e frigobar.
Sentou-se na cama e, antes mesmo de tocar nas malas, telefonou para casa:
-
Oi, amor. Acabei de chegar. Dirigir por três horas e meia seguidas até que foi
divertida. Estou meio cansada. Vou tomar um banho e me informar sobre os outros
convidados. E as crianças? Que bom, amor. Sei, eu também queria estar com você,
mas são só dois dias, e depois teremos todo o tempo do mundo para nos amar. Eu
sei que você como é importante pra mim esta conferência. Representar minha
empresa é um passo para a próxima promoção... Desde que tudo corra bem.(risos)
Você está certo, paixão; o que poderia dar errado, não é mesmo?(seriedade) Te
amo. Te amo muito.
Conversam
mais meia hora coisas que somente um casal que nada tem a dizer, a não ser
"gostaria de estar com você" sabem conversar. Ela desliga e toma seu
banho, demorando-se o suficiente para achar que o banho demorava. Vestiu-se e
deitou na cama. Fechou os olhos por um instante, mas quando o abriu já era seis da manhã. Estranhou o fato. Dormira oito
horas seguidas, de tão cansada que estava. Por que não havia se dado conta
antes de que estava tão cansada? Abriu e fechou as mãos repetidas vezes. Olhou
as pernas bronzeadas em busca de algum sinal de varizes. Nada. Trinta e dois
anos, duas filhas e nada de varizes. Refletiu por um momento, despiu-se e foi
ao espelho. Ainda aparentava ser uma pós
adolescente. Todos diziam "Trinta e dois? Meu Deus, eu não lhe daria mais
que vinte e cinco!". Sorriu. Duas filhas – parto natural! – e toda a sexualidade do mundo em seu corpo
moreno e conservado. Fazia o marido feliz... O Marido! Dois anos mais velho e
vinte anos de envelhecimento corporal. Desgostou-se e foi vestir-se. Possivelmente
a cerveja no bar com os amigos, ou a vida sedentária enquanto ela, além de
trabalhar, enfrentava algumas horas de academia toda a semana. E para quê isto?
Para evitar que o marido olhasse para outras mulheres que não ela. Mas ele
olhava. Todos os homens olham... Todos são... Tão parecidos... Quase idênticos!
Olhou o relógio. Sete horas. Hora do café. A conferência começaria às oito.
Colocou um Luís XV nos pés e saiu da
suite.
"Os
assuntos de sempre!", pensou Márcia. Sua empresa estava há muito à frente
das outras. Os assuntos e problemas que eram pauta da conferência, na maioria
das vezes, eram casos que sua empresa já havia resolvido. Ela mesma havia dado
a solução para muitos casos. Certamente, as pessoas acabaram por perceber a
presença daquela mulher-menina que falava com tanta propriedade sobre vários
assuntos ligados àquela área. Não devia ter mais que um metro e sessenta e
cinco, cabelos longos e olhos levemente esverdeados, em contraste com a pele
bronzeada, quase morena, quase branca, quase... irresistivel ao olhar
masculino. E sorriu; os homens a olhavam com seus olhos de raposa, e ela sorria
de desdém. Nunca a teriam. Nunca a provariam. Ela estava acima de todas as
mentes, de todos os corpos. Márcia era uma deusa, intocável.
Na
mesa de almoço, junto a outras pessoas da conferência, a conversa fluía. Muitos
lamentavam o estado civil de Márcia, mas, ao olharem as fotos, diziam que
esperariam para se casarem com uma de suas lindas filhas que, apesar de não
terem mais que sete e nove anos, já mostravam o traço de beleza e inteligência
da mãe. Ela sorria. Ninguém comentava o marido. Ninguém, nem as mulheres. Nem
por pena ou por gentileza. Era como se não estivesse na foto que ela sempre
trazia na bolsa. Temia que alguém perguntasse. "É sério!? Uma mulher como
você com um homem como este?". "Eu o amo, e daí?", ela
responderia. Eles fariam aquela cara e dariam com os ombros, ou pensariam
"Deus salve o amor!" ou "O amor é cego mesmo!". E Márcia
apenas recordaria seu amado ao dezoito, dezenove anos, com seu porte atlético e
sorriso cristalino. Mas não são as mulheres que costumam engordar e criar barba
e mau hálito com o tempo? A maioria das mulheres casas lembravam rolhas de
poço, pizzas gigantes e elefantes verdes. Márcia tem verdadeiro horror a isto.
Destruir o corpo seria como destruir a mente, e vice e versa. O corpo era
reflexo de sua mente... Imaginou a mente do marido. Por um momento sentiu
ânsia. Pediu licença e saiu da mesa, indo direto ao banheiro. No caminho, quase
derrubou um dos funcionários do hotel. Ele
desculpou-se, sendo que a culpa era dela, mas ela mal ouviu. Correu ao
banheiro e sentou-se no vaso sanitário.
Havia no ar um cheiro de eucalipto, o que fez com que ela relaxasse. Fechou os
olhos por um momento e escutou alguém batendo na porta. Era uma das mulheres
que estavam à mesa com ela.
-
Você está bem, Márcia?
-
Sim, estou. Só mais um minutinho.
-
Tem certeza?
-
Tenho.
-
Está certo. Eu vou te esperar lá fora.
Márcia ficou mais um pouco e saiu. O refeitório estava deserto. Só a mulher a
esperava. Ela se deu conta que havia demorado um pouco no banheiro. Não ousou
olhar o relógio; preferiu os olhos da colega de profissão.
-
Quanto tempo?
-
Quarenta minutos.
Márcia começou a chorar. A nova amiga não sabia o
que fazer. Olhou para todos os lados e abraçou a desconhecida, levando-a para a
sacada do hotel.
-
Ei, o que está havendo?
-
Nada. Me desculpe.
Ela olhou para Márcia como se pudesse ler sua mente
e deu um triste sorriso antes de dizer a palavra mágica:
-
Homem. – Só restou a Márcia balançar a cabeça positivamente – Sempre eles! São
todos iguais e nada valem! Amante?
Márcia
a olhou um tanto espantada e ofendida.
-
Marido.
-
Pior do que pensei! Traição?
Márcia parou de chorar. Traição? Seria? De certa
forma, sim. Mas o que ele havia traído? Enxugou os olhos, agradeceu a estranha
pela atenção prestada e foi para o elevador, sem mais nada dizer.
Em seu quarto, deitada na cama, começou a pensar em
divórcio. Mas, e a filhas? Não, não podia se divorciar – já havia sido criada
pela mãe, sem a presença paterna, e não queria isto para as filhas. Neste
momento, bateram na porta. Pelo olho mágico,
viu que se tratava de um jovem, empregado do hotel. Abriu a porta?
-
Pois não?
-
A senhorita Dolores me disse que precisava de mim.
-
Não preciso.
-
Não mesmo? – E a olhou deliciosamente.
- Não. Obrigada. – E fechou a
porta. Dolores? Abriu novamente e fez um "psiu", pois o jovem já
havia dado alguns passos. Ele sorriu e voltou faceiro. – Quem é Dolores?
-
Sua amiga, que almoçou a pouco com a senhorita.
- Ela não é minha amiga. – curiosidade; sempre
ela! – E no que ela supõe que eu precise de você?
- Consolo.
Márcia fechou a porta do
quarto violentamente, fazendo o som ecoar por todo o andar. O que Dolores
estava pensando? Que era uma vagabunda? Uma infiel com o seu amado marido?
Deitou-se na cama e decidiu esperar a hora passar.
Logo mais, à noite, todos os participantes da conferência se encontrariam no
salão de jogos para a integração do grupo. Ela diria poucas e boas para Dolores
e, com certeza, estragaria qualquer oportunidade de negócios que ela tivesse na
Capital. Conhecia e era temida por todos na Capital... Aquilo não ia ficar
barato! E batem na porta novamente. Márcia abre a porta violentamente; Dolores
está à sua frente séria, com olhar penetrante. Desviando-se daquele olhar,
Márcia a pegou pelos cabelos e lançou-a na cama, furiosa e brutal como havia
sido certa vez no colégio.
-
Qual é o problema, Márcia? Você é louca?
- Eu, louca? E por acaso,
você é? Enviando um garoto de programa
ao meu quarto, pensando que sou uma mulher decaída e carente?
-
Eu pensei que uma transada iria te fazer bem.
-
Talvez você seja assim, mas eu não sou! Já tenho um homem em casa!
- Eu também tenho um homem em casa, mas o que
você quer que eu faça se aquele gordo nojento não é capaz de me dar prazer? Só
sabe subir em cima de mim, bufar e ejacular como um porco? Você tem a minha
idade, Márcia, o meu corpo,... A gente se cuida tanto com medo que o amor deles
por nós acabe, e o que recebemos em
troca? Um homem descuidado e sedentário. Não foi isso que eu quis para meu
casamento... Transar com rapazes alivia meu fardo de prazer, a compaixão e a dó
substituem o amor e eu sou capaz de suportar meu casamento, enquanto meus
filhos crescem.
Márcia olhava Dolores e
entendia bem o que ela dizia, mas não deixava de achar tudo aquilo imoral e sem
sentido. Ir para cama com outro homem que não o seu... Lembrou-se do jovem e de
seu sorriso maroto. Ele não havia feito suas filhas, não a levou para o
hospital sob a chuva e nem assistiu ao nascimento delas. Não, aquele moleque de
nada sabia; apenas tinha um corpo bonito e um pênis... e um pênis...
- Eu não vou trair meu
marido, Dolores. Não com um garoto que
nem ao menos sabe o que é Ter experiência de vida.
- E quem falou em traição? É
só prazer; é como comer um doce, tomar um drink... Não é nada sério, nem
compromisso, nem paixão. É um estimulo e um momento. Nada mais. Você nunca se
masturbou por outros homens que não fosse seu marido? Nunca fechou os olhos e
imaginou que era outra em cima de você, e não ele? Será que quase não disse
outro nome sem querer? Ou você é
daquelas que fazem tudo muda, com medo de que seus desejos escapem pela boca?
Eu amo meu marido, Márcia. Amo o pai de meus filhos. Mas ele não me dá mais
prazer. E eu preciso sentir prazer!
Não havia o que dizer.
Márcia abriu a porta.
- Obrigada pela boa
intenção, Dolores, mas não se preocupe. Quando eu quiser fazer sexo com alguém,
eu mesmo chamo.
Dolores levantou-se e
ajeitou os cabelos.
- E você acha que seu marido
nunca fez nada disso que eu falei? Não seja idiota, Márcia. A fidelidade sexual é uma fantasia religiosa. É como
esperar a volta de quem já morreu.
- Até mais, Dolores.
Dolores saiu do quarto e Márcia fechou a porta. Há
louco para tudo! Pegou o telefone com impulso, para contar o acontecimento para
o marido. Afinal, sempre contavam tudo um para o outro... Não. Ela sempre
contava as coisas para ele. Colocou o telefone de volta à sua base e passou a
mão pelos cabelos. Talvez devesse conversar sério com o marido sobre atividades
físicas. Ele ainda era jovem, podia voltar a Ter um corpo bonito como o do
rapaz...O do rapaz. Márcia tomou outro banho demorado, e teve cuidado para não
sujar a mão com o sabonete, a fim de que não irritasse sua pele mais sensível
do corpo.
Depois
daquele episódio, Márcia evitou aproximar-se de Dolores, e por sorte não via o
jovem transitando pelo hotel. Seria constrangedor revê-lo. As palestras e
trocas de experiências seguiram-se durante mais um dia, e, como sempre, Márcia
destacava-se dos demais. Era, de fato, uma mulher fascinante. O marido a
merecia? Merecendo ou não, havia as filhas, e ela sabia muito bem o que era
crescer sem um pai do lado. E seu marido era um ótimo pai, um amigo
extraordinário e carinhoso. Só? Controlou-se para não chorar. Era a última
palestra da tarde. Então, poderia voltar para seu quarto, arrumar suas malas e
partir.
Palmas!
Todos de pé, cumprimentando-se e despedindo-se ali mesmo, no salão de
convenções. Muito partiriam ainda à tarde. Márcia decidiu ficar e dormir.
Partiria de manhã, descansada e alimentada. Despediu-se de todos e foi para seu
quarto, ligar para o marido.
-
Oi, amor. A última palestra acabou de acontecer. Amanhã cedinho estou voltando
para casa. Prepara um almoço gostoso, que eu vou chegar por volta da uma. As
crianças estão bem? Deixa eu falar com elas. Oi pequena, tudo bem? Papai cuidou
bem de você? Ele comprou chocalate? Que bom, amorzinho! Amanhã mamãe já tá aí,
tá bom? – E batem na porta – Espera um pouquinho, que eu tenho que atender a
porta.
Márcia
abre a porta. Era Dolores.
-
Vim me despedir.
-
Estou ao telefone, com a minha família. – Ríspida e seca foi Márcia.
- Não se preocupe. Sua
chance foi desperdiçada. Ele está de folga e só voltará depois que todos
tivermos ido embora. Você é uma tola. Se
eu fosse você, o levaria para cama, e o trataria como se fosse sua primeira
vez... Até mesmo a minha primeira vez.
Dolores sorriu e mandou um
beijinho para Márcia, mesmo estando perto o suficiente para beijá-la. Márcia
fechou a porta e voltou para o telefone.
Não dormiu à noite, pensando
em casa. As filhas estavam bem e com saudades, assim como o marido, que estava
ansioso por sua volta. Márcia pensou
nele e chorou durante toda a noite. Sabia que não o amava mais. Não como homem.
Era tudo uma farsa, e em nome da criação de suas filhas, esta farsa
prosseguiria até quando não fosse mais necessária. Talvez o "não fosse
mais necessária" acontecesse quando ela jás avançada nos anos. O corpo,
por mais conservado que ficasse, deixaria de ser atraente, mais cedo ou mais
tarde. Tão jovem, tão bela quanto Dolores... Amada por um homem tão
desarmonioso.
O Sol nasceu. Alguém bateu
na porta.
-
Serviço de quarto.
-
Entre.
E o garoto entrou. Não devia ainda ter dezoito anos
e, pelo susto que levou ao ver a pequena e muída morena em trajes de sono,
nunca antes tocara em uma mulher. Desviou o olhar e fez menção de sair. Mas a
dama pediu para que ficasse, entrasse e trancasse a porta. Perguntou seu nome.
Era João. Pediu para que se aproximasse da cama. Perguntou a idade. Dezessete.
Nunca havia antes saído do interior. Rezava aos domingos na pequena capela do
local. Márcia sorriu, e disse que sentasse na cama, pois não iria mordê-lo. Ele
sentou-se. E ela mentiu.
Quando
chegou em casa, duas horas depois do horário previsto, disse ao marido que
havia dormido demais. As filhas
abraçaram e beijaram o rosto jovem da mãe. Era ótimo está em casa. O marido
abriu uma cerveja em lata e tomou-a de um gole só, com prazer e volúpia. Márcia
lembrou-se de João chegando ao orgasmo pela primeira vez na vida e sorriu.
Amava as filhas, amava o marido. Amava e necessitava de prazer.
(9.10/05/03 – 1:49hrs)