Nascido em Espheras (1972), teria uma vida comum, se não fosse amores e amizades que o cercam,transformando-o em um homem ordinário envolvido em situações extraordinárias. Claudemir Santos conheceu Belloto em 93, no velório da suicida Sabrina C. Lima. Belloto lhe narra sua vida desde então. Agora, autorizou a publicação de alguns fatos. Atualmente, Belloto mora na Z/L e possui um antiquário com objetos tão incomuns quanto seu círculo de amizades.
domingo, 20 de setembro de 2009
MEMÓRIAS DE ESPHERAS III
HORA DO CHÁ (ou 25 anos depois)
Para mim é bem claro o motivo d’eu ainda estar aqui bem sossegado: hoje eu não quero chegar no horário. Horário nenhum seria o ideal, mas tenho que cumprir minha função, da mesma maneira que um bom inglês toma o seu chá às cinco. Mas eu, como um brasileiro mediano, tomo meu chá às seis enquanto escrevo e ouço Frank Zappa.
E o por quê de tudo isto: evitar amigos e isolar-me sem telefone que me toque ou vivalma que saiba como me encontrar? Ora, às vezes – e por horas – eu quero estar sozinho comigo mesmo e pensar nas maiores besteiras que realizei nestes últimos vinte e cinco anos, idade que completei há algum tempo e que, se eu mesmo não lembrasse, a data passaria tão despercebida quanto uma data cristã na China Medieval.
Droga: não que isto importe! E vá lá saber se hoje não há cristãos até mesmo no Japão? Mas o que me fere mesmo é saber que ela esqueceu até que eu existo neste dia. E vinte e cinco anos é uma idade tão bonita: metade de cinquenta, que é metade de cem, que é o máximo que uma pessoa com a minha idade hoje pode chegar. Eu mesmo, se viver mais cinquenta anos de vida, já me considerarei um sortudo, merecedor da grande sorte – ou um puta azarado, daqueles que lembram da vida e ficam rindo da própria cara.
Mas vinte e cinco anos depois do meu nascimento, eu paro para ouvir Frank Zappa, enquanto me troco para sair da minha isolação e ir para o mundo real. Percebo que o chá esfria e até já me sinto melhor (não posso negar a mim mesmo que todos estiveram presentes na minha vida. De alguma forma, de forma alguma estive realmente sozinho neste período).
Então me vem à cabeça que as coisas podem ficar melhores agora, apesar dos fantasmas do passado e da minha triste mania de ser sincero, agressivo e idiota sempre que possível.
Frank Zappa e seu cd Hot Rats. Serão “ratos quentes” ou uma gíria britânica que eu não sei como traduzir? Lembro-me que já sonhei com quem me esqueceu alguma vez no passado ouvindo essa canção... Son of Mr. Green Genes... Um dejavú novinho em folha... O tempo corre e não há muito tempo para continuar escrevendo. Lembro-me que Frank Zappa já morreu há algum tempo, assim como eu.
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