domingo, 20 de setembro de 2009

MEMÓRIAS DE ESPHERAS III




HORA DO CHÁ (ou 25 anos depois)


Para mim é bem claro o motivo d’eu ainda estar aqui bem sossegado: hoje eu não quero chegar no horário. Horário nenhum seria o ideal, mas tenho que cumprir minha função, da mesma maneira que um bom inglês toma o seu chá às cinco. Mas eu, como um brasileiro mediano, tomo meu chá às seis enquanto escrevo e ouço Frank Zappa.

E o por quê de tudo isto: evitar amigos e isolar-me sem telefone que me toque ou vivalma que saiba como me encontrar? Ora, às vezes – e por horas – eu quero estar sozinho comigo mesmo e pensar nas maiores besteiras que realizei nestes últimos vinte e cinco anos, idade que completei há algum tempo e que, se eu mesmo não lembrasse, a data passaria tão despercebida quanto uma data cristã na China Medieval.

Droga: não que isto importe! E vá lá saber se hoje não há cristãos até mesmo no Japão? Mas o que me fere mesmo é saber que ela esqueceu até que eu existo neste dia. E vinte e cinco anos é uma idade tão bonita: metade de cinquenta, que é metade de cem, que é o máximo que uma pessoa com a minha idade hoje pode chegar. Eu mesmo, se viver mais cinquenta anos de vida, já me considerarei um sortudo, merecedor da grande sorte – ou um puta azarado, daqueles que lembram da vida e ficam rindo da própria cara.

Mas vinte e cinco anos depois do meu nascimento, eu paro para ouvir Frank Zappa, enquanto me troco para sair da minha isolação e ir para o mundo real. Percebo que o chá esfria e até já me sinto melhor (não posso negar a mim mesmo que todos estiveram presentes na minha vida. De alguma forma, de forma alguma estive realmente sozinho neste período).

Então me vem à cabeça que as coisas podem ficar melhores agora, apesar dos fantasmas do passado e da minha triste mania de ser sincero, agressivo e idiota sempre que possível.

Frank Zappa e seu cd Hot Rats. Serão “ratos quentes” ou uma gíria britânica que eu não sei como traduzir? Lembro-me que já sonhei com quem me esqueceu alguma vez no passado ouvindo essa canção... Son of Mr. Green Genes... Um dejavú novinho em folha... O tempo corre e não há muito tempo para continuar escrevendo. Lembro-me que Frank Zappa já morreu há algum tempo, assim como eu.

23 06 00 18 18

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